EXPEDIÇÃO MONTE RORAIMA 2017 PARTE I

VEJA O VIDEOCLIPE DA PRIMEIRA PARTE DA NOSSA EXPEDIÇÃO

VEJA O RELATO DA NOSSA EXPEDIÇÃO AO MONTE RORAIMA EM OUTUBRO DE 2017.

O ano de 2017 foi bastante positivo para o nosso projeto de viagens pelo Brasil e pelo mundo! Adicionamos ao nosso currículo de aventureiros, incursões em partes da região  de Nevada, Texas e Califórnia, sendo que esta última, ainda pretendemos percorrer de carro, partindo de Fortaleza-Ce, até alcançar a cidade de Fairbanks no estado do Alaska, Estados Unidos, completando assim o nosso trajeto pelas três Américas num raid pela Rodovia Pan-Americana, cuja extremidade Sul na cidade de Ushuaia-RA, ja estivemos em 2014. Mas  isso vai ser uma história para depois!...

Logo que retornamos dos EEUU, iniciamos os preparativos para mais uma etapa do nosso Projeto Extremos da América do Sul. Dessa vez a aventura seria pelo Norte do Brasil, cruzando a Floresta Amazônica, até chegar a Gran Sabana venezuelana, para ascender ao topo do Monte Roraima que, pela sua aura, fábula e mistérios, inspirou  Conan Doyle a escrever o livro "O Mundo Perdido". O livro descreve que no início do Século XX, um grupo de exploradores partiu em uma expedição com o objetivo de desvendar a existência de um mundo perdido e completamente isolado do mundo moderno. Várias acidentes aconteceram e o grupo vê-se encurralado e isolado num mundo diferente e perigoso!

É da Expedição ao Monte Roraima Solidário 2017 que vamos falar agora! 

INICIO DA EXPEDIÇÃO

Dia 19 se setembro de 2017, saímos de Guaramiranga-Ce, e chegamos em Brasília dia 21, onde passamos alguns dias na companhia da nossa filha Mariella. De lá seguimos para Barra do Garças, por coincidência a mesma cidade onde os Irmãos Villas Boas( Leonardo, Cláudio e Orlando) na década de 40 se embrenharam nas matas, liderando a Expedição Roncador Xingu, cujo objetivo era desbravar o sul da Amazônia e fazer as primeiras aproximações pacíficas do homen branco com várias etnias, entre elas os temidos Índios Xavantes. Para realizar está expedição, os irmãos Villas Boas, largaram a vida burguesa que tinham em São Paulo e, em nome da causa indígena, enfrentaram bichos selvagens, doenças e dificuldades de toda espécie, desbravando terras desconhecidas entre os Rios Xingu e Tapajos, considerada na época uma das regiões mais desconhecidas da América. Hoje os índios estão pacificado e os perigos são outros! Viajar pelas estradas brasileiras requer planejamento é muito cuidado, não só pelas condições de segurança impostas pelas suas precárias condições, mas, principalmente pela presença  de bandos armados que agem a qualquer hora, estimulados pela impunidade e pela falta de policiamento. Mas a vontade de descobrir novos lugares, conhecer pessoas e culturas diferentes, nos desafiam e nos dão energia para continuarmos com o nosso projeto. A partir de Barra do Garças era preciso cronometrar bem o nosso roteiro pois no dia 15/10/17, tínhamos que chegar em Boa Vista-Ro, para nos juntar a outros amigos e ao Time da Operadora Gente de Montanha, com Máximo Kausch e Karina Oliany, nossos líderes e idealizadores da Expedição Monte Roraima Solidário 2017. Viajamos pelos estados de Goiás, Mato Grosso e Rondônia até alcançar a Amazônia, passando por grandes latifúndios que contrastam com as pequenas propriedades de caboclos que lutam pela sobrevivência e as vezes avançam por terras indígenas demarcadas, gerando conflitos agrários graves.

BR 319 - CONHECIDA COMO ESTRADA DAS ONÇAS

Mas, o nosso primeiro grande desafio era fazer a travessia dos 890 km da BR-319, conhecida como Estrada das Onças, que numa grande extensão de 471 km, com muitos atoleiros, sem nenhuma cidade, posto de combustíveis e estrutura de apoio é considerada uma das estradas mais difíceis do Brasil. Mesmo assim, viajar por essa estrada ainda é o sonho de muitos aventureiros do Brasil e do exterior! É como viajar pela Carretera Austral na Patagonia Chilena. A estrada corta a Floresta Amazônica, ligando Manaus a Porto Velho e no seu trecho mais crítico de 400 km, conhecido como "meião" , no período das chuvas vira um grande atoleiro que já foi batizado de "piscinão" pelos motoristas que por ali trafegam. Além dos atoleiros os buracos e quase 100 pontes de madeira, completam o desafio. Muitos relatos sobre essa estrada construída na década de 70 pelo regime militar são contadas pelos poucos habitantes que ainda resistem ao tempo e ao abandono. Contam que a estrada foi destruída por "gente poderosa" leia-se empresários do transporte fluvial que não queriam ver a estrada funcionando. Moradores mais antigos falam com tristeza do "assassinato da BR" e afirmam terem testemunhado máquinas destruindo o asfalto, pontes e bueiros sendo dinamitados, até que em 1988 a estrada foi fechada e os comércios existentes nas suas margens foram abandonados. Verdade ou não, as denúncias nunca foram investigadas, mas, quem passa pela estrada observa que em vários trechos, o asfalto lançado na época da sua construção, ainda está intacto e em alguns pontos apresenta o sinal das lâminas deixado pelas máquinas, como se tivesse havido uma tentativa de arrancar a pavimentação. Já no Estado do Amazonas, pernoitamos na cidade de Humaitá e a noite enfrentamos um temporal muito forte que provocou um blecaute na cidade. Fomos dormir tarde, preparando o carro e a nossa bagagem mas, como de costume, acordamos cedo. Depois do café caímos na estrada! A nossa expectativa era grande pois sabíamos que se a chuva tivesse caído forte na estrada, iríamos enfrentar muitos atoleiros. Logo no início da viagem, os sinais não eram muito favoráveis pois no asfalto esburacado, haviam várias poças d'Água e algumas árvores caídas, resultado do temporal da noite anterior. Fizemos  a nossa primeira parada na Vila Realidade para completar o tanque no único posto de abastecimento até Careiro Castanho que está há quase 500 km dali. Na pequena vila que cresce de forma desordenada, existe farmácia, hotel, restaurante, oficina, e outros comércios num aglomerado que mais parece uma cidade de faroeste. Mesmo assim, a população reivindica a sua emancipação do Município de Humaitá. No posto fomos informado que a estrada estava seca e que os pontos mais críticos haviam sido "patrolados" há poucos dias. Isso nos deu mais tranquilidade, mesmo sabendo que a previsão era de pancadas de chuva na região.

CHUVA E ATOLEIROS

Fizemos a segunda parada na Fazenda dos Catarinos, considerada um ponto emblemático para quem trafega pela rodovia. A família Schroeder, vinda de Santa Catarina, vive na região há quase trinta anos e mesmo isolada, enfrentando todo tipo de dificuldade, conseguiu prosperar e hoje, além de gerar emprego, oferecem vários benefícios para a comunidade, inclusive uma pequena escola. No caminho contemplamos alguns trechos de floresta ainda preservada, com características de uma estrada parque, com grande potencial turístico a ser explorado. Avistamos também  muitas queimadas, levantando enormes colunas de fumaça que se misturam com as nuvens, transformando de forma agressiva e repentina a floresta em pasto ou lavoura, tudo isso sem contar com a ação dos grileiros, garimpeiros e madeireiros, que se embrenham nas matas e agem de forma violenta, expulsando os povos nativos para se apossarem dos recursos naturais da floresta. Aqui ainda predomina a lei do mais forte! A distância entre as poucas  comunidades ao longo da estrada é enorme, e cruzar com outros veículos na Rodovia Fantasma, também  é coisa rara. Continuamos  viagem e a chuva começou a cair com intensidade. Rapidamente a poeira baixou e o barro se transformou em lama! Apesar da estrada se encontrar em manutenção, as dificuldades começaram a aparecer. Começamos  a dirigir com tração 4x4 para melhorar a estabilidade do carro e com marcha reduzida para transpor alguns pontos de terra encharcada. A partir dali, começamos a encontrar as primeiras carretas atoladas esperando por socorro. Outros veículos menores, que foram surpreendidos pela chuva, patinavam e seguiam com dificuldade sendo em alguns pontos empurrados pelos passageiros. A estrada molhada fica bastante escorregadia, tornando-se imprópria para veículos que não dispõe de tração 4x4. Até as pessoas escorregam na lama e caminham com dificuldade. Por volta de 16:30 nos deparamos com quatro carretas atoladas e pela hora, achamos que o socorro só chegaria no dia seguinte. Já estávamos preparados para se fosse o caso dormir na estrada pois os "brutos" atravessados na estrada, impediam a passagem nos dois sentidos. Felizmente uma máquina chegou para liberar a passagem e novamente seguimos viagem.

PERNOITE NA COMUNIDADE RIBEIRINHA DE IGAPÓ-AÇU

No início da noite chegamos na Vila de Igapó-Açu, uma pequena comunidade ribeirinha onde moram pouco mais 30 famílias que vivem basicamente da pesca. No Rio Igapó-Açu que banha o vilarejo, os botos cor de rosa são a principal atração. Contam os ribeirinhos que de tão apegados aos nativos, os botos chegam a acompanha-los nas pescarias, ajudando a encurralar os cardumes e depois são recompensados comendo na mão dos pescadores. Tudo aqui é muito simples e a saúde muito precária. Conta-se que é comum encontrar pessoas que já contraíram Malária por mais de vinte vezes! Procuramos o Hotel Beira Rio, instalado em uma construção de madeira na margem do rio, suspensa por troncos de madeira que na verdade é uma grande palafita. Ali funciona o único hotel, com cinco quartos, um pequeno restaurante e a casa da proprietária . Fomos recebidos pela simpática  Dona Mocinha, proprietária do hotel e um dos ícones da Mítica BR-319. Dona mocinha num primeiro instante, se mostrou um pouco retraída e foi logo nos advertindo que as acomodações eram muito simples! Pediu que a acompanhasse-mos para conhecer o último  quarto disponível, que se resumia a uma cama de casal, sendo este o único com ar condicionado. O banheiro é coletivo. Para quem por pouco não dormiu na estrada, achamos um luxo! Depois de nos acomodar no apartamento, fomos para o restaurante jantar e prosear um pouco com Dona Mocinha,  que nos contou com tristeza e detalhes a história da destruição da estrada que chegou a presenciar. O restaurante permaneceu aberto até por volta de 23:00 horas quando um ônibus vindo de Manaus, cruzou o rio na balsa e fez um rápido pit stop para que os passageiros pudessem jantar. O motorista e proprietário do ônibus, que já faz o percurso Manaus Humaitá há mais de vinte anos, juntou-se aos demais hóspedes e começou contar alguns perrengues passados ao longo desses anos. Hoje ele viaja na companhia do seu filho que se reversa com ele na direção do buzão "traçado" , equipado com guincho e outros apetrechos para seu próprio uso e para desatolar outros carros e romper os atoleiros na época das chuvas. Conta ele que até hoje nunca interrompeu uma viagem, mesmo que tenha que passar vários dias na estrada. Nas suas ferramentas ele carrega até uma motosserra para cortar árvores caídas e para consertar pontes avariadas. A viagem não pode parar,  todos têm compromissos! Em pouco mais de vinte minutos, os passageiros jantaram e o "buzão" sumiu na escuridão da estrada. . Fomos dormir ouvindo o coaxar dos sapos e o cochicho dos hóspedes vizinhos. Acordamos cedo com o canto dos galos e com o barulho dos caminhões boiadeiros que encontramos atolados na estrada e haviam pernoitado na margem do rio, para no clarear do dia, embarcar na  balsa e seguir viagem. Como havíamos chegado no povoado ao final da tarde, a nossa esperança  era de que pela manhã, pudéssemos avistar os botos cor de rosa. Só que a nossa expectativa foi frustrada! A explicação da Dona Mocinha foi que os botos estavam com  filhotes e tinham que ganhar o rio para pescar e alimentar a prole. Tomamos café e atravessamos o rio na balsa rumo a Manaus.

ENCONTRO DAS ÁGUA RIO NEGRO E SOLIMÕES

Valeu a experiência de conviver, mesmo que por pouco tempo em uma comunidade ribeirinha. Para chegar em Manaus, ainda tínhamos que rodar 250 km, sendo mais de cem em estrada de terra e asfalto esburacado. Próximo de Careiro da Várzea, o asfalto é novo e de boa qualidade. Fomos orientados a parar antes do posto da PRF e lavar as placas do carro pois se fossemos parado em uma fiscalização, seríamos multados! Em Careiro da Várzea, pegamos uma balsa e depois de navegar por cerca de uma hora e meia pelo Rio Amazonas, passando pelo espetáculo do encontro das  águas do Rio Negro e Solimões que neste ponto não se misturam, chegamos na capital manauara. Aproveitamos o percurso no ferryboat para refletir sobre o nosso "cruze" pela Floresta Amazônica e concluímos que o bordão muito falado na região de que "A ESTRADA DAS ONÇAS É PARA OS FORTES" é pura verdade, além de ser uma experiência incrível é desafiadora!

Um grande abraço!!!
Mario & Carmen

Alvaro de Oliveira Neto 19.02.2018 20:32

É contagiante mergulhar na narrativa e sentir a emoção de fazer parte dela... Parabéns amigos pelo desafio vencido... Desafio possível somente aos cortes...

Mario & Carmen 24.02.2018 17:51

Brigado ao grande amigo e Monteverdeano Alvaro pelos seus comentários!
Mario & Carmen.

Comentários recentes

12.10 | 14:09

Brigado Ronaldo Salles. Grande abraço!

08.10 | 16:47

Maravilha de relato... Expedição fantástica !! Melhor ainda por que foi com esse icônico carro, Defender é símbolo de liberdade e aventura. Abraços de Landeir

27.04 | 22:41

Brigado Lelei. Um dia voltaremos! Grande abraço!👍

27.04 | 22:28

Que bacana..Parabéns..Quando quiserem Voltar estou a disposição. Abraço