EXPEDIÇÃO MONTE RORAIMA 2017 PARTE II

METROPOLE DA FLORESTA

Chegamos na Metrópole da Floresta no final da tarde do dia 07 de outubro de 2017, e lá tivemos a companhia do casal de amigos Albanisa e Junior que nos acompanharam em vários passeios. Manaus viveu o seu apogeu no Ciclo da Borracha e por muitos anos esteve na vanguarda econômica e cultural de várias cidades brasileiras. A "Paris dos Trópicos" , como já foi chamada, recebeu forte influência portuguesa, inglesa e francesa mas o nome da cidade é uma homenagem a Tribo Indígena Manaós que no passado habitava a região. Conhecer a história e a cultura, experimentar a gastronomia, sentir a floresta com seus rios e se aventurar pela natureza foi o nosso programa nos dias que passamos na cidade e nos seus arredores. Começamos pela Praia de Ponta Negra um dos mais bonitos cartões-postais da cidade onde Manauaras e visitantes, aproveitam para fugir do forte calor amazônico. A praia se forma quando o Rio Negro está baixo mas outras atrações podem ser vistas do calçadão como a  Ponte Estaiada de Iranduba com os seus 12 km de extensão e shows de música regional. Saborear os petiscos e comidas típicas como tapioca, tacacá , tucumã, farinha de Uarini e o tradicional X Caboclinho ou simplesmente "Caboquinho" como chamam os mais tradicionais, também é uma boa pedida. As frutas da Amazônia  estão presentes nos sucos e sorvetes de tucumã, cupuaçu e taperebá apenas para citar os mais exóticos. Completam a lista os clássicos creme de açaí, mouse de cupuaçu e os famosos bombons com recheio de frutas encontrados nos quiosques ao longo da orla.

 

MANAUS BELLE ÉPOQUE

No dia seguinte, iniciamos o nosso tour pelo Mercado Municipal Adolpho Lisboa, um dos símbolos da Manaus "Belle Époque" que foi inspirado no famoso Mercado Les Halles, de Paris. Fora a viagem pelo tempo, o mercado é um reduto da gastronomia, costumes e cultura do Amazonas. Ali se encontra de tudo! Peixes, frutas, artesanato, cheiros, sabores e as tradicionais "garrafadas" , misturas de ervas e plantas medicinais que auxiliam no tratamento de várias doenças.

Ao lado do mercado, está o Porto Flutuante de Manaus com o intenso vaivém dos barcos regionais e de pessoas que num ritmo frenético neles embarcam e desembarcam a todo instante. Seguimos de carro e fomos avistando outros prédios que fazem parte do conjunto histórico e arquitetônico da cidade, como a Alfândega, construído à moda das edificações  londrinas, com elementos pre-montados importados da Inglaterra, o Relógio Municipal, cujas peças foram importadas da Suíça e a Igreja Matriz dentre outros.

DIA DE PRAIA

Como domingo é dia de praia, seguimos na companhia dos nossos cicerones para o município de Iranduba a 30 quilômetros de Manaus. A praia escolhida  fica no Balneário Amazon Forever, mais conhecido como Praia do Japonês. O local é excelente para relaxar e não fica nada a dever em estrutura das barracas de praia que temos no Ceará. A grande extensão de areia branca, formada pela vazante do Rio Negro, contrasta com o verde das árvores e desenha um cenário único que se renova a cada ano. Aproveitamos o dia para apreciar  a natureza com direito a cerveja bem gelada, petiscos e banho nas águas frias do Rio Negro que contrastam com o calor da região. Escolhemos para almoçar um Tambaqui na brasa uma das mais famosas especialidades da culinária regional que seria servido na nossa mesa instalada dentro do rio, mas tivemos que abortar a ideia e nos refugiar no restaurante por conta de uma tempestade repentina que fez voar  mesas e cadeiras que estavam na margem do rio. Este fenômeno, comum na região amazônica, provoca os temidos banzeiros cujas ondas formadas pelo vento, são responsáveis por um vasto acervo de histórias de naufrágios com vítimas fatais nos rios amazônicos. No final da tarde voltamos para Manaus para contemplar a Ponta Negra e fazer um city tour pela cidade. À noite voltamos para o hotel.

LARGO SÃO SEBASTIÃO

Na segunda feira saímos de taxi para conhecer o centro histórico, enquanto o nosso carro coberto pela lama e poeira da BR-319 era lavado. Primeiro visitamos o Teatro Amazonas que inaugurado em 1896, ainda reina absoluto como uma das maiores expressões da riqueza e da prosperidade alcançada pela cidade no auge do ciclo da borracha. Contrariando a indicação do Guia Turístico da Prefeitura de Manaus, o teatro estava fechado para manutenção e não foi possível fazer a visita guiada pelos espaços internos que acontecem de segunda a sexta de 9h as 17h. Diante dessa impossibilidade, passamos a admirar a parte externa do teatro que também é igualmente bela. A cúpula veio de Paris e as telhas vitrificadas foram trazidas da cidade de Alsácia também na França. O revestimento da cúpula é feito por 36 mil peças em cerâmica esmaltada que formam as cores da bandeira brasileira. Nada estava fora do alcance dos grandes comerciantes de borracha que também traziam para se apresentar nessa grandiosa "opera house" os principais espetáculos líricos que aconteciam na Europa e em outros lugares do mundo. Não é a toa que o Teatro Amazonas foi listado como um dos dez mais belos do mundo!

Continuamos circulando no Largo São Sebastião que fica no entorno do teatro de onde é possível ver vários casarios e prédios históricos dentre eles o Palácio da Justiça a Igreja de São Sebastião além do Monumento de Abertura dos Portos, localizado no meio do largo. 

Uma curiosidade! O calçadão ao redor do monumento, tem desenho de ondas em branco e preto, feito com pedra portuguesa em alusão ao encontro dos Rios Negro e Solimões. Esta pavimentação com desenho de ondas é anterior ao mundialmente famoso calçadão de Copacabana no Rio de Janeiro.

Visitamos um dos símbolos mais recentes do glamour e do poder que embora castigado pelo tempo ainda resiste imponente. Estamos falando do Hotel Tropical, um resort ecológico erguido na floresta às margens do Rio Negro que nos seus mais de 40 anos de existência, já foi referência na hotelaria internacional, tendo hospedado grandes líderes, chefes de estado  e artistas famosos. Fazem parte do livro de ouro, celebridades como Bill Clinton, Tom Cruise, Olívia Newton-John, Paul Simon, Roberto Carlos, James Cameron e vários outros nomes ilustres do mundo inteiro. O hotel pertencia a VARIG que quebrou, levando junto à Rede Tropical de Hotéis. Hoje o resort é operado por uma multinacional do ramo hoteleiro que tenta reinseri-li no no mercado .

ARQUIPELAGO DE ANAVILHANAS

Fomos em busca do boto cor-de-rosa, personagem de uma das lendas mais conhecidas da Amazônia e desta vez o nosso destino foi Novo Airão. A cidade fica a 180 km de Manaus e é lá que a espécie possui um dos redutos mais conhecidos, notadamente pela oportunidade de as pessoas poderem interagir com os animais no flutuante da dona Marilda. Mais uma vez a nossa expectativa de ver de perto esse lendário animal não se concretizou por conta de um acidente ocorrido no flutuante que o deixou submerso. Só conseguimos ver alguns botos nadando próximo da margem do rio. Mesmo assim, fomos recompensados pela oportunidade de contemplar o maior arquipélago fluvial do mundo composto por aproximadamente 400 ilhas. Navegamos pela maior floresta tropical do planeta, entrecortada pelas águas do Rio Negro que forma o Parque Nacional das Anavilhanas. Nesta época do ano, considerado período de vazante, o cenário é de belas praias com águas calmas, areia fina e muito branca. Na época da floresta inundada, a água atinge a copa das árvores e a paisagem muda completamente permitindo ao visitante adentrar na mata em canoas e alcançar lagos que ficam isolados na época da seca. 

ÁRVORE GIGANTE DA AMAZÔNIA

Desembarcamos da voadeira para conhecer a imponente sumaúma, considerada a árvore símbolo da Amazônia. A Sumaumeira adulta atinge o porte gigantesco de 70 metros de altura, embora existam relatos de plantas com noventa metros, e o seu caule chega a 3 metros de diâmetro. Em torno dessa árvore, considerada sagrada pelos povos da floresta, existem várias lendas que são invocadas pelos pajés em rituais de cura. Para alguém que esteja perdido, a árvore funciona como "telefone da floresta" pois, batendo em suas raízes (sapopembas) como são chamadas, o som ecoa por longas distâncias, anunciando a presença de alguém no seu tronco. 

COMUNIDADE TIRIRICA

Fomos conhecer a Comunidade Ribeirinha do Tiririca onde vivem pelo menos 10 famílias de caboclos, em casas de madeira tipo palafitas. Lá os nativos comercializam artesanato e estão construindo um pequeno restaurante e uma pousada para receber turistas. Na frente da comunidade existe uma bela praia onde ficamos boa parte do dia na companhia de algumas famílias que lá estavam acampadas e nos convidaram para compartilhar do churrasco feito com peixe frito pescado na hora. No final da tarde desembarcamos em Novo Airão e fomos almoçar um Tambaqui assado na brasa no Restaurante Flutuante. Na manhã do dia seguinte retornamos para Manaus.

TERRA DAS CACHOEIRAS

Deixamos Manaus a caminho de Boa Vista e paramos para conhecer a "Terra das Cachoeiras" como é conhecida Presidente Figueiredo. O município fica a 110 km de Manaus, sendo uma ótima opção para os amantes da natureza e adeptos do turismo de aventura. Existem mais de 150 cachoeiras sendo que pelo menos 100 estão catalogadas. São vários atrativos como rafting, boia cross, caiaque, tirolesa, rapel, arvorismo e trilhas na selva a pé ou off-road que nos levam a cavernas, grutas e corredeiras, num verdadeiro paraíso ecológico!

Existem pelo menos três  complexos turísticos bem estruturados, instalados na própria floresta que também funcionam como hotel, com trilhas, piscinas naturais, cachoeiras e outras atividades. Escolhemos ficar no Iracema Falls, um hotel de selva localizado numa reserva ecológica onde estão as cachoeiras mais visitadas. Lá ficamos por dois dias onde fizemos várias trilhas numa espécie de "esquenta" para o Trekking do Monte Roraima.

PRAÇA DO CENTRO DO MUNDO

Seguimos viagem pela BR-174-(Manaus a Boa vista) que para nós  foi na verdade um belo passeio turístico. A rodovia tem 780 km, corta a selva amazônica e 125km estão na Reserva Indígena Waimiri-Atroari, entre os estados de Roraima e do Amazonas, sendo 74 do lado roraimense. Para asfaltar a estrada o governo fez um acordo com os índios.  O acordo dizia que a floresta e todos que nela moram (aves, animais e humanos) não poderiam ter o seu sono perturbado. Assim, a partir das 18h os índios esticam uma corrente atravessando a pista que só é retirada as 6h do dia seguinte. À noite, só ônibus com passageiros, ambulâncias e viaturas policiais passam. Ao longo da estrada cuja mata é muito bem preservada, vimos muitos índios mas o contato com eles não é permitido. Existem placas alertando que é proibido parar, filmar ou fotografar na área indígena.

Depois das terras indígenas, nos deparamos com o monumento que simboliza a Linha do Equador. Conhecido como a Praça do Centro do mundo, o local é ponto de parada obrigatória para registrar a travessia do Hemisfério Sul para o Hemisfério Norte em apenas um passo.

Próximo de Boa Vista os cenários se sucedem. A exuberante ponte e a vista do Rio Branco, savanas, Igarapés rios e a bela visão da Serra Grande, cheia de mistérios e belezas naturais nos dão as boas vindas à cidade.

CHEGAMOS EM BOA VISTA

Chegamos em Boa Vista no início da noite de sexta feira 13 de outubro de 2017. O município de Boa Vista, capital do Estado de Roraima, teve origem na sede da Fazenda Boa Vista que contrariando a vocação da cultura da borracha no norte do país, se dedicou a pecuária que por muito tempo foi a principal fonte econômica do município e durou até a década de 60. Nos anos 80, o "boom" do garimpo alavancou a economia do estado até ser proibido em 1985 por Lei Federal, em virtude dos danos que a mineração sem controle vinha causando a natureza. Diante da dificuldade enfrentada pela população local de cultura garimpeira, o Congresso aprovou em 2001, uma lei complementar que autorizou aos residentes o garimpo manual, que causa pouco impacto ao meio ambiente.

Hoje o funcionalismo público é a principal fonte de receita do município. A capital possui um traçado urbano diferenciado em forma de leque e foi planejadas em alusão às ruas de Paris, na França. Todas as principais avenidas convergem em direção a praça do Centro Cívico, onde se encontram as sedes dos três poderes, pontos turísticos, hotéis e bancos.

A cidade que já foi considerada por órgãos especializados, a melhor da Região Norte para se morar, hoje enfrenta o drama dos Refugiados da vizinha Venezuela que não param de chegar a cidade, sem dinheiro, sem comida e sem lugar para ficar. Pelo menos 40 mil já cruzaram a fronteira o que equivale a mais de 10% dos cerca de 330 mil habitantes da cidade que possui o menor índice populacional do Brasil. Nas ruas, Português e Espanhol se misturam e o "portunhol" se populariza. O impacto da imigração é notado por todos os lados e isso causa uma sensação de insegurança, embora Boa Vista seja considerada uma cidade tranquila, sendo a vigéssima quinta no ranking das capitais mais violentas do país.

Nos acomodamos no hotel Uiramutam onde o time do Gente de Montanha montou a sua base para receber os integrantes da Expedição ao Monte Roraima Solidário. 

O hotel fica em frente a Praça das Águas, um dos cartões postais mais conhecidos da cidade. Na praça com vários espelhos d'Água e fontes luminosas, existe um espaço de alimentação com diversos quiosques onde o visitante encontra açaí, tacacá e a tradicional paçoca com banana, uma das comidas típicas de Roraima. Este espaço passou recentemente por uma grande reforma e se tornou um dos mais visitados por boa-vistenses e turistas. 

MITSUBISH MOTORS RORAIMA

O sábado foi reservado para troca de óleo da nossa "Casca Grossa" na concessionária Mitsubishi Motors Roraima. Na companhia do Paulo Henrique, gerente da concessionária,  fizemos um teste drive na nova L-200 e aproveitamos para conhecer alguns pontos turísticos da cidade e fazer um rápido off-road nas areias do Rio Branco. 

LAGO DO ROBERTINHO

No domingo fomos descansar no Lago do Robertinho, um lugar paradisíaco no estilo da Lagoa Azul em Jericoacoara-Ce. O lago está localizado a 50 quilômetros de Boa Vista, na zona rural. Mediante o pagamento de uma taxa, o visitante desfruta até 19h do lago, bar e restaurante. Para os que gostam de se aventurar, existe cavalgada, tirolesa, banana boat e Stand up Paddle. Para quem quiser ficar hospedado, o balneário oferece pequenos chalés na beira do lago. No final da tarde retornamos para o hotel e fomos preparar as mochilas para na manhã de segunda feira,  seguirmos viagem  para Santa Helena de Uairén na Venezuela, ponto de partida para o Trekking Solidário ao Monte Roraima.

Um grande abraço
Mario & Carmen

Comentários recentes

12.10 | 14:09

Brigado Ronaldo Salles. Grande abraço!

08.10 | 16:47

Maravilha de relato... Expedição fantástica !! Melhor ainda por que foi com esse icônico carro, Defender é símbolo de liberdade e aventura. Abraços de Landeir

27.04 | 22:41

Brigado Lelei. Um dia voltaremos! Grande abraço!👍

27.04 | 22:28

Que bacana..Parabéns..Quando quiserem Voltar estou a disposição. Abraço